Nós também não gostamos de ouvir isso

Tem coisa mais batida do que ouvir que “o Brasil está atrasado”?

Inventamos o avião, o pix e até o câmbio automático. Somos referência em futebol, demos show nas últimas Olimpíadas em várias modalidades e, enquanto o país ficou sem o X, temos certeza de que a rede social perdeu a graça para os gringos. Mas a verdade é dura: quando o assunto é investimento, estamos duas décadas atrás dos Estados Unidos.

Esses 20 anos não são da boca pra fora: é uma estimativa feita pela MarketVector em entrevista recente ao Neofeed. Segundo eles, somos o último grande mercado que ainda não se desenvolveu em ETFs.

Claro que ninguém joga uma bomba dessas sem querer: a MarketVector vê no Brasil uma boa oportunidade, já que é uma provedora global de índices — o elemento essencial para criar um ETF.

“Mas eu não quero índice. Eu quero dinheiro.”

Calma. Não temos nenhum vínculo com a MarketVector (com nenhuma empresa do mercado, aliás — somos 100% independentes). Mas, quanto mais índices, mais opções de diversificar o portfólio você tem.

Diversificar ajuda a mitigar riscos e a investir em setores específicos. Cripto? IA? Ouro? Tesouro americano? Quase tudo pode virar um ETF.

Quanto tempo até esses 20 anos virarem zero?

A gente espera que seja logo. A cada edição, vamos fazer nossa parte para diminuir esse gap, explicando os benefícios de investir em ETFs.

E como um dos benefícios dos ETFs é a transparência, seremos francos em dizer que a newsletter pode até se chamar tudoETF, mas nem tudo na vida se resolve com ETFs.

Às vezes você só precisa sair de casa e tomar um sol.

Siga o dinheiro e... chegue em um ETF

A política econômica agressiva já é uma marca registrada da China. Um país que bancou, nos anos 1990, uma desvalorização forte da própria moeda em nome da liderança em exportações, não poderia agir de forma sutil na hora de reverter uma estagnação doméstica.

É esse o panorama trazido em uma matéria do Valor Investe, baseada boa parte em um relatório da XP. Os problemas atuais por lá envolvem desemprego em alta entre os jovens e consumo em baixa, tudo isso botando contra a meta de 5% de crescimento anual do país.

A solução? Um pacotão de estímulos que nem cabe no elevador, daqueles em que é preciso içar pelo lado de fora do prédio.

  • Para aquecer o mercado imobiliário, em vez de 25%, os chineses agora precisam dar apenas 15% de entrada no primeiro imóvel.
  • Para o mercado de capitais, um financiamento de US$ 71 bi para a compra de títulos.
  • Para o setor bancário, redução de 0,5% do valor obrigatório que cada banco precisa deixar depositado no Banco Central, liberando mais de US$ 142 bi para novos empréstimos.

E o que os ETFs têm a ver com isso?

O mero anúncio das medidas no fim de setembro fez o ETF FXI, listado nos EUA, assumir o topo em valorização no acumulado em 2024 entre os ETFs regionais, aqueles que acompanham um índice que, por sua vez, replica a cesta das principais empresas listadas no país ou na região escolhida.

No último dia 7, o FXI chegou a bater 57,8% de rendimento em 2024, com o mercado regulando a própria afobação, mas ainda mantendo um alto patamar, em 40,88% até o fechamento desta edição.

Se você investe em ETFs ou acompanha a bolsa, talvez já saiba, mas não custa lembrar…

O mercado financeiro vive de expectativas, sempre projetando o que está por vir. Olhar para o passado é importante, mas a cotação de um investimento tem mais a ver com a soma do que cada investidor espera de uma empresa ou até mesmo de um país inteiro. A China disse “estou melhorando” e todo mundo já confirmou ela na festa.

No Brasil, o FXI é replicado pelo BDR BFXI39, enquanto o ETF XINA11, da XP Asset, conta com um índice próprio da XP Asset para acompanhar a gigante asiática. O primeiro acumula um retorno de 64,11% em 2024. O segundo, de 46,47%.

Aliás, aqui vai uma dica: a B3 tem uma área para comparar ETFs e BDRs de ETFs.

Alerta de fundo novo na bolsa brasileira

Para tirar o gosto amargo de "Brasil atrasado" e não dizer que nossa primeira edição já começou dando um balde de água fria, temos uma notícia que aponta para o crescimento da oferta de ETFs por aqui.

A novidade foi contada há poucos dias em matéria exclusiva... para a Exame, não para a tudoETF. Um dia chegaremos lá.

A Rio Bravo, gestora de fundos que fez seu nome no mercado imobiliário, quer lançar o ETF “menos passivo” da nossa bolsa.

Ativo? Passivo? Na prática, o ETF funciona como um fundo de investimentos, ele só está em outro lugar — em vez de distribuído através de corretora ou banco, o acesso é direto via bolsa (sem “pedágios” no caminho, entende?).

E como todo fundo de investimentos, ele precisa ser gerido, seja de forma passiva (acompanhando um índice) ou ativa (quando um gestor decide, por conta própria, os ingredientes que vão compor a sua cesta).

A gestão de um ETF é tradicionalmente feita de forma passiva. No Brasil, inclusive, é obrigatório que seja assim. No exterior, existem ETFs geridos ativamente, assunto que rende pauta em outra edição.

O que mais a Rio Bravo contou?

Para a Exame, Evandro Buccini, sócio-diretor da Rio Bravo, explica que o índice do ETF seguirá o mercado de ações, focando em qualidade, dividendos e valor. Pouco mais foi revelado sobre a estratégia, mas Buccini ressalta que a rotação da carteira através do índice não será tão frequente: "não vale a pena alterar a carteira diariamente".

Ó, se ao menos os traders ouvissem.

Fecha a conta, por favor?

Alguns números para encaminhar os finalmentes.

📈 104 ETFs estão em negociação hoje na bolsa brasileira (esse da Rio Bravo que mencionamos ainda não fez seu IPO). Segundo o MoneyTimes, 70 desses ETFs foram lançados nos últimos quatro anos. 20 anos atrás, os EUA já tinham mais do que nós. Hoje, o número por lá passa de 3300. Vamos falar mais sobre como acessar ETFs fora da bolsa brasileira ao longo das próximas edições!

🌐 Há mais investidores em ETFs do que habitantes em Aracaju, Florianópolis e outras oito capitais brasileiras. Enquanto 654 mil brasileiros investem em ETFs, somos um pequeno bairro na megalópole de 5 milhões investindo na bolsa. Ao visitar, passe longe da zona Day Trade.

🤡 Em 2019, Joker custou US$ 55 mi em produção e bateu quase US$ 250 mi na bilheteria em seu primeiro final de semana de estreia. Neste ano, a parte 2 do filme custou US$ 200 mi e abriu com uma bilheteria de US$ 114,8 mi. Rendimento passado não é sinônimo de rendimento futuro.