Goste ou não da figura, Javier Milei e sua motosserra (o símbolo com o qual ele exemplifica sua política econômica) são um prato cheio para os noticiários. E entre as notícias recentes, você deve ter visto alguma menção ao ETF argentino que ganhou o coração de Wall Street na segunda metade de novembro.
No último dia 25, a Bloomberg reportou que o ETF ARGT (Global X MSCI Argentina ETF) bateu recordes na semana anterior, com US$ 144 milhões de aportes no período. Aliás, entre a posse de Milei e a data de publicação da reportagem, o ARGT praticamente setuplicou: de US$ 104 milhões a US$ 750 milhões em patrimônio.
Por trás do movimento está uma esperança renovada com a economia da Argentina, em especial com o rumo da inflação: em outubro, o índice registrou 2,7%, marcando o resultado mensal mais baixo desde 2021 (no acumulado de 12 meses, os hermanos seguem com uma inflação de 193%).
Deixamos a análise da sustentabilidade da política fiscal de Milei no longo prazo para os especialistas. O que queremos é aproveitar o tema para explicar por que um ETF é protagonista em uma notícia de macroeconomia.
O “mercado" não é um ser onipotente, que um jornalista pode convidar para uma entrevista. Para conseguir medir o seu humor, existem diversas formas, como pesquisas como o Boletim Focus aqui no Brasil, respondido semanalmente por cerca de 140 representantes de instituições financeiras que dão as suas previsões para temas como câmbio, inflação e PIB.
E para presumir análises de humor do mercado globalmente, o apetite por um ETF regional pode ser o gancho certo para uma notícia.
É por isso que você talvez veja, também, o EWZ, principal ETF nos EUA que corresponde à economia brasileira, sendo usado como termômetro do investidor estrangeiro em relação à bolsa brasileira.
Quem garante que, na hora da venda das suas posições em um ETF, alguém vai querer comprar? Aliás, quem garante que um ETF que acompanha um índice não vire alvo de especulação e comece a descolar freneticamente do seu benchmark?
Essa é a importância do formador de mercado.
Na hora de lançar uma ação ou um ETF, o emissor do investimento precisa de market makers, ou seja, outras instituições financeiras que se comprometem a garantir liquidez.
Se a negociação de um ETF fosse uma festa que você fizesse em casa, o formador de mercado seria aquele amigo cuidadoso que sempre garante que tenha cerveja gelada para os convidados.
Outro papel importante do formador de mercado é reduzir o chamado “spread bid ask”.
Em bom português, essa é a diferença entre o preço oferecido pelo vendedor e o preço pago pelo comprador na bolsa. Garantir que essa diferença não seja alta é essencial para que a transação do investidor de ETFs corresponda à realidade do índice que o fundo acompanha.
O formador de mercado, ao longo do pregão, pode fazer negociações de alto volume de compra e venda para garantir a regularidade da cotação.
Alguns exemplos:
Gostou do formato “wikiETF”? Aos poucos, vamos desmistificando os termos mais importantes para quem investe em ETFs. E, em breve, vamos lançar nosso primeiro material de peso para quem ainda está dando os primeiros passos nesse tipo de investimento. Fique de olho!
Por mais que as decorações de Natal já deem um tom de fim de ano, o mercado de ETFs segue entregando novidades em 2024. Dá um olhada:
1️⃣ A BB Asset, gestora de recursos do Banco do Brasil, lançou na semana passada o BRAZ11. Ele segue um índice da B3 chamado Ibovespa B3 BR+ (a Nu Asset foi a primeira a criar um fundo com ele, o NBOV11). O intuito desse índice é somar ao Ibov empresas relevantes no Brasil, mas que têm ações listadas lá fora: Nubank, Stone, PagSeguro, Banco Inter e XP.
2️⃣ A Itaú Asset também colocou na rua dois novos ETFs: o B3BR11, que segue o mesmo índice do novo ETF do BB; e o IDKA11, de renda fixa, que acompanha um índice da Anbima de títulos prefixados do Tesouro com vencimento em três anos. Vamos repetir a frase que foi título de uma das nossas edições: a renda fixa está definitivamente invadindo a bolsa.
3️⃣ A B3 lançou um “novo Ibovespa”. O nosso principal índice de ações, com 86 papéis na carteira, atribui pesos diferentes para cada companhia: a Petrobras, por exemplo, com as ações PETR3 e PETR4, representa 13% do índice. O novo índice, Ibovespa B3 Equal Weight, conta com as mesmas empresas, mas dá o mesmo peso a todas elas.
“O investidor poderá analisar o desempenho do mercado de uma forma que a performance das grandes companhias não impacte tanto na visão do quadro geral”, segundo Ricardo Cavalheiro, superintendente de índices da B3 em matéria da Infomoney.
Será que alguma gestora está de olho em um ETF de Ibovespa Equal Weight? 👀
Enquanto os ETFs trabalham por você, recomendamos semanalmente algo que possa ocupar o seu tempo e, de quebra, ensinar algo sobre o mundo dos investimentos.
O nome dele talvez já esteja na sua estante: John C. Bogle. Mas e o livro “Suficiente”, você já leu?
Em um tom reflexivo, o fundador da Vanguard (uma das maiores gestoras de ETFs do mundo) parte do conceito de “suficiente” para refletir se a constante busca por mais (mais dinheiro, mais sucesso, mais riqueza) pode ser fruto de infelicidade quando não sabemos qual o nosso suficiente.
Costurando suas ideias com sua experiência de vida, Bogle aborda os ETFs em específico ao ver alguns produtos da classe prometendo retornos exorbitantes por meio de alavancagens, indo contra a premissa básica de acumular patrimônio através de gestão passiva e do longo prazo.