Há 19 anos, o Brasil não via uma taxa de juros tão alta: 15% ao ano. A decisão tomada pelo Copom, Comitê de Política Monetária do Banco Central, impacta diretamente os seus investimentos.
Mas… o que fazer, exatamente?
Nosso colunista, Renato Eid, da Itaú Asset Management, responde:
“Esse novo cenário abre portas para estratégias que se beneficiam da oscilação das taxas de juros, oferecendo oportunidades especialmente interessantes para quem pensa no médio e longo prazo.”
Quer entender na prática quais ETFs são capazes de navegar nesse cenário?
Com mais de 30 produtos voltados para o mercado imobiliário e R$ 10 bilhões sob gestão, a gestora brasileira Hedge lançou neste mês o seu primeiro ETF: o HERT11.
Com um índice proprietário construído junto com a FTSE Russell, o ETF possui uma alocação exclusiva em FIIs brasileiros de tijolo.
(Lembrando que um FII de tijolo é aquele que investe diretamente em imóveis físicos, usando os recursos captados para construir e gerenciar seu portfólio e gerando renda majoritariamente a partir do aluguel recebido. Já os FIIs de papel focam no crédito que o mercado imobiliário exige, focando sua alocação em investimentos como LCIs, CRIs e LHs.)
"Quando o estrangeiro pensa em fundos imobiliários, ele pensa em tijolo".
Essa frase é de Felipe Freitas, diretor de distribuição da Hedge, em entrevista para o Metro Quadrado. Esse é o contexto do novo produto da casa: atrair capital estrangeiro com um ETF alocado naquilo que já é familiar para o investidor estrangeiro. XPML11, HGLG11 e KNRI11 são os FIIs com maiores posições no ETF HERT11, que conta com 0,50% de taxa global.
Em maio, uma entrevista da Hedge para a B3 explorou um pouco mais os planos da veterana de FIIs em atrair o olhar gringo para o mercado imobiliário brasileiro. Em 2023, o maior FII da Hedge, o HGBS11, passou a compor índices globais da FTSE que acompanham títulos imobiliários.
Segundo a gestora, isso fez o seu time bater na porta da S&P e da MSCI, outras duas gigantes no mercado global de índices, para entender como os FIIs podem ser vistos como pares dos REITs, o equivalente mais próximo de um fundo imobiliário no mercado dos EUA.
A missão, segundo a Hedge, não é isolada: o desejo é de que, além dos seus próprios FIIs, outros fundos imobiliários brasileiros sejam reconhecidos lá fora. “O investidor estrangeiro precisa enxergar a nossa indústria como um todo”, disse o analista Felipe Freitas.
No ecossistema dos investimentos, quanto mais índices incluírem FIIs brasileiros em suas carteiras, mais fundos de índice mundo afora acessam o mercado imobiliário daqui. Foi o que a Hedge viu com o reconhecimento da FTSE: “entrou um novo investidor representativo [no HGBS11] — os gestores de ETF.”
Muitas vezes a bolsa de um país é usada como espelho da sua economia. Além disso, quando a gente olha para países como os EUA, a sensação que dá é a de que praticamente toda companhia tem uma ação para investir.
Mas não é bem assim. A SpaceX, de Elon Musk, não está na bolsa. Nem a OpenAI, a Stripe, a ByteDance (dona do TikTok), o Discord ou a Epic Games. No Brasil, companhias como iFood, 99, C6 e Creditas já chegaram ao valor de mercado de US$ 1 bi sem pisar na bolsa.
Quem não se perguntou, no boom das startups na virada da década, como ganhar dinheiro com o crescimento de unicórnios brasileiros?
Demandas de investimentos no setor movimentam o mercado de private equity. No Brasil, fundos de private equity e venture capital (capital de risco) movimentaram R$ 280 bilhões da economia brasileira nos últimos 10 anos, como o blog do Banco do Brasil reportou há algumas semanas, segundo dados da Associação Brasileira de Venture Capital e Private Equity (ABVCap).
Apesar de bilionário, o setor representa 0,2% do nosso PIB, enquanto a classe supera 2% em países como EUA e Reino Unido.
No Brasil, o investimento costuma ocorrer através de um fundo que passa por três períodos importantes: captação, alocação e, por fim, desinvestimento (quando o investidor começa a ter retorno sobre o investimento).
São horizontes longos de tempo (média de 7 a 10 anos) e retornos mais voláteis do que um fundo tradicional de ações. O que justifica o fato do private equity ser um investimento com uma maior dose de restrição.
Podem entrar no jogo investidores qualificados (quem detém R$ 1 milhão ou mais investidos em outras classes) ou profissionais (quem detém R$ 10 milhões ou atua como profissional no mercado de investimentos ou, ainda, é uma das diversas instituições financeiras autorizadas para ocuparem esse papel).
O novo ETF da VanEck
Em entrevista à CNBC, Jan Van Eck, CEO da gestora de ETFs VanEck, comenta que, com a regulamentação mais apertada desde a crise de 2008, o empréstimo para empresas deixou de ficar na mão apenas dos bancões.
Com o tempo, gestoras dedicadas a private equity ganharam força. O novo ETF da casa foca em investir em quem empresta dinheiro ou é acionista das companhias que ainda não estão na bolsa, incluindo os unicórnios.
No portfólio do ETF GPZ estão firmas como Brookfield, Apollo, Ares e Blackstone, gestoras que, por sua vez, estão na bolsa e são “pure play”: lidam com um único tipo de serviço e produto, o que torna mais simples a análise da sua performance em relação ao que elas fazem no dia a dia.
Van Eck comenta que hoje o investimento em private equity para o americano médio é de 2%, mas acredita em um aumento para até 10% no longo prazo. E acredita também que o crescimento de gestoras de private equity tende a ser maior do que as de ETF ou de fundos tradicionais.
O GPZ se junta a outros ETFs de private equity na bolsa. Entre os mais famosos estão o PEX, da ProShares, e o PSP, da Invesco. As teses são semelhantes, com a principal diferença na geografia, dando pesos diferentes para gestoras em diferentes países.
O unicórnio é uma espécie que pode surgir em qualquer continente.
🧠 Eles dominam nos EUA, mas sequer chegaram ao Brasil: o Brazil Journal reflete sobre o atual cenário mundial dos ETFs com gestão ativa.
🌱 Um ETF temático de dois temas: o Goldman Sachs lançou o GEMS, ETF focado em ESG em mercados emergentes.
🌍 Como os ETFs têm refletido o conflito entre Israel e Irã? O Yahoo! Finance reuniu alguns dos primeiros movimentos no mercado global e recomendou cinco estratégias defensivas ao investir em ETFs para o investidor americano.