A lua de mel entre Trump e as criptomoedas

Tem um ditado popular que diz: "o jornal de hoje embrulha o peixe amanhã". A lição é a de que o mundo gira rápido e a grande notícia do dia é esquecida rapidinho.

Esse não é o caso quando o assunto é a eleição presidencial da maior potência do mundo.

Há quase uma semana da confirmação da vitória de Donald Trump como o novo presidente dos EUA, o assunto ainda reverbera — e o resultado ainda mexe com o mercado.

Entre tantos efeitos de curto prazo, um deles diz respeito diretamente aos ETFs atrelados à cripto.

O IBIT, ETF americano da BlackRock que reflete a performance do Bitcoin, registrou um volume recorde de negociações no pregão seguinte à confirmação das urnas: US$ 4,1 bi.

Como um todo, os ETFs de Bitcoin à vista operaram o dobro do volume médio de negociações no “day after” da vitória. O Bitcoin por si só também renovou altas históricas no dia, passando dos US$ 76 mil por unidade, segundo o Portal do Bitcoin, e chegando ontem a namorar a marca dos US$ 90 mil.

Por que a vitória de Trump causou esse boom?

Existe uma demanda forte do mercado americano para a regularização de investimentos atrelados a cripto, incluindo os ETFs. A restrição dos órgãos reguladores sempre foi mais forte por lá: como mostra a matéria do Valor Investe, foram 10 anos para que enfim um ETF com exposição direta de Bitcoin fosse lançado nos EUA.

Curiosamente, isso deu ao Brasil uma vitória folgada como o primeiro país a lançar um ETF de cripto, o HASH11, da Hashdex.

O Valor Investe destacou a mudança de postura de Trump em relação às moedas digitais: sua campanha mais recente mostrou uma empatia maior com o mercado, a ponto de propor a criação de uma reserva no Tesouro americano com Bitcoins apreendidos em operações ilícitas.

Adicione a isso a vice-presidência de J.D. Vance, que já avançou pautas sobre o assunto como senador, e o apoio de Elon Musk, entusiasta ferrenho do assunto.

Mas um presidente só não faz verão.

Na mesma reportagem, Julia Rosin, da Bitso Brasil, ressalta que qualquer reforma regulatória terá que tramitar como projeto de lei. Mesmo com os republicanos em maioria no legislativo, estamos falando de mudanças mais de médio prazo do que do dia para a noite.

Você escalaria um time sem os melhores jogadores?

A gestora americana Defiance ETFs, sim.

A Defiance decidiu lançar o XMAG, um ETF de S&P 500 sem as “Magnificent Seven”, segundo o ETF Strategy.

Um ETF sem Apple, Microsoft, Google (Alphabet), Amazon, Nvidia, Meta e Tesla.

Atualmente, essas ações representam 35% do S&P 500 segundo a Nasdaq — uma fatia grande para um índice que acompanha as 500 maiores companhias na bolsa americana.

Além disso, o Firstlinks demonstrou a alta correlação da performance dessas empresas, motivo que pode ser explicado pelas sete estarem altamente relacionadas à tecnologia. O mesmo risco foi apontado pelo Morgan Stanley.

Mas quem teria interesse em um ETF sem elas?

Segundo a CEO da Defiance, Sylvia Jablonski, existe uma demanda de profissionais do mercado por um ETF assim, dando a chance de construir portfólios para clientes sem tanta exposição à volatilidade do setor tech.

Outro ponto de vista pode ser o de redução de riscos: se você já possui essas ações em sua carteira e busca diversificar a exposição nos EUA, pode fazer sentido um ETF que não duplique o mesmo risco ao qual você já está exposto.

E já que estamos em Wall Street…

Enquanto no Brasil estamos perto dos 100 ETFs, nos EUA a quantidade de fundos de índice passa dos 3 mil. O número reflete um mercado de capitais mais amadurecido, com mais empresas listadas na bolsa e investidores buscando diferentes estratégias.

Entre essas estratégias, há diversas que se baseiam em ETFs temáticos. Hoje citamos um tema que talvez você nem imagine que renda investimento: água.

Segundo a Investopedia, são estes os maiores ETFs do setor:

  • Com retorno de 34,7% nos últimos 12 meses, o PHO (Invesco Water Resources ETF) investe em títulos de empresas do setor hidráulico com foco em sustentabilidade e gestão de recursos naturais.
  • O FIW (First Trust Water ETF) é focado em indústrias de tratamento e produção de água potável. Para a mesma janela de tempo, ele trouxe retorno de 33,6%.
  • Por fim, o CGW (Invesco S&P Global Water Index ETF) acompanha as 50 maiores companhias globais envolvidas em serviços relacionados à água, com 12,8% de valorização em um ano.

Em momentos de mudança climática, parece fazer sentido investir em um recurso indispensável e, de quebra, ajudar a impulsionar as empresas por trás, não?

Há quem discorde. Não dos ETFs de água em si, mas de ETFs temáticos como um todo: muitos especialistas do mercado sugerem que você fuja de fundos de índice assim. Assunto que rende uma próxima edição!