Você deve conhecer o meme em que um homem olha para outra mulher e, ao fundo, sua namorada demonstra frustração.
Se esse homem representasse o investidor, a analogia seria a seguinte: enquanto a maioria se distrai pensando em performance, existe algo que sempre estará ao seu lado e que é de bom tom não deixar de prestar atenção: os impostos.
Esse é um dos principais motivos que tornam a Irlanda uma espécie de protagonista quando os investidores buscam internacionalizar seus investimentos ao acessar ETFs de bolsas estrangeiras.
Apesar do maior mercado de ETFs ser os Estados Unidos, ETFs americanos carregam alguns "asteriscos" que você não deve ignorar:
➡️ O mercado americano está habituado a distribuir dividendos para os investidores de ETFs. Eles não chegam, porém, sem uma mordidinha do leão americano: o governo taxa 30% do valor em impostos para investidores estrangeiros.
➡️ Por mais jovem que você seja, pensar na sucessão do seu patrimônio é poupar dor de cabeça quando os cabelos brancos começarem a aparecer. Os EUA cobram entre 18% e 40% sobre o patrimônio de estrangeiros que herdam acima de US$ 60 mil.
Para o primeiro problema, os EUA mantêm um acordo com o país europeu que diminui esse imposto para 15% quando os ETFs americanos distribuem dividendos para um ETF irlandês. Além disso, a Irlanda não cobra outros impostos sobre dividendos.
Quanto à sucessão patrimonial na Irlanda, a transmissão de bens entre quem não mora lá é... zero.
O acordo mencionado acima entre EUA e Irlanda dá a resposta sobre como funciona o mercado de investimentos.
Pegando emprestada a cultura de outro país e convocando você novamente à imaginação… Sabe a matriosca? Aquela boneca que, dentro dela, há outra boneca idêntica, mas menor, e que dentro dessa nova boneca, há outra boneca menor e assim por diante.
O mercado de investimentos é uma grande fábrica de embalagens.
Assim como nossos BDRs de ETFs da B3, há ETFs custodiados na Irlanda que replicam grandes ETFs americanos, como o VT, fundo da Vanguard que acompanha o mercado acionário global, e o IVV, carro-chefe da BlackRock quando o assunto é S&P 500.
O investidor que opta pela Irlanda acessa todo o cardápio disponível na bolsa de Londres, podendo também encontrar ETFs de acumulação (quando o dividendo é reinvestido em vez de cair na conta), uma opção que não é tão comum nos EUA.
Diversas plataformas que dão acesso a investimentos internacionais seguem, por ora, focadas apenas em alternativas do mercado americano.
A mais falada, quando o acesso aos ETFs irlandeses entra em pauta, é a corretora estadunidense Interactive Brokers, que não cobra taxas de gestão, apenas de corretagem. Mesmo assim, é importante que você pesquise os diferentes planos oferecidos.
Há ainda a corretora brasileira Warren, que opera com um modelo de taxa fixa sobre seu patrimônio. A companhia oferece carteiras administradas com ETFs irlandeses.
Nada melhor do que um checklist de prós e contras para uma pergunta tão direta.
ETFs irlandeses:
✅ Dão acesso a milhares de ETFs listados nos EUA e em outras bolsas globais, permitindo acessar ETFs com reinvestimento de dividendos, de gestão ativa, temáticos, entre outras estratégias longe de chegarem à bolsa daqui.
✅ Não possuem custo de transmissão de bens em comparação ao investimento nos EUA, o que facilita o planejamento sucessório.
✅ Para investidores mais ortodoxos, há a ideia de que investir diretamente no exterior oferece mais segurança, blindando seu patrimônio de incertezas fiscais ou políticas que podem ocorrer no Brasil.
Mas…
❌ Investir diretamente no exterior envolve custos de câmbio para envio e saque do seu patrimônio.
❌ Talvez você não conheça ainda a variedade de ETFs brasileiros. Além de estarmos em um “boom” de lançamentos de ETFs nos últimos anos por gestoras brasileiras, a B3 vem fazendo um grande esforço de aumentar o número de BDRs de ETFs.
A partir daqui, tiramos as rodinhas de apoio da sua bicicleta e deixamos você entender se o caminho à Irlanda faz sentido para seu patrimônio. Use capacete.
🪙 Gold rush: até então, a bolsa brasileira contava com apenas um ETF de ouro, o GOLD11, da XP. O fundo se expõe ao IAU, ETF da BlackRock, e possui custo de gestão de 0,55% ao ano.
Agora, a gestora Investo entrou na corrida do ouro (e com uma taxa mais baixa): seu novo ETF, GLDX11, replica o OUNZ, ETF da VanEck. O custo anual do novo produto é de 0,30%. Saiba mais no portal Inteligência Financeira, do Itaú.
💎 E ETF de diamante, existe? A indústria dos diamantes passa por uma crise de diferentes origens, incluindo a produção de pedras em laboratório.
Em busca de salvar o que parece ser um ativo em crise, está em jogo a criação de um ETF de diamantes naturais nos EUA, o que pode ajudar a indústria a valorizar a pedra natural e criar novas formas de precificação — além de poder espelhar o sucesso de ETFs de metais preciosos, segundo os otimistas. O assunto é um pouco técnico, mas vale a leitura no Idex (em inglês).
💪 Mil em 2025? Em artigo do Infomoney, fontes da Bloomberg compartilham a expectativa de que 2025 seja um ano de mais de 1000 ETFs lançados nos EUA. Só no primeiro trimestre (sim, já estamos em abril) a bolsa americana viu a estreia de 230 fundos. Para comparação, 2024 fechou com pouco mais de 700 lançamentos.
E tem quem diga que os ETFs de gestão ativa, depois de baterem US$1 trilhão sob gestão, estão no centro desse crescimento, segundo essa matéria da CNBC.