Como funciona um ETF de ouro?

Entre lançamentos de moedas digitais, altos e baixos de ações de empresas que prometem o futuro e teses inovadoras de inteligência artificial, o ouro resiste e não sai de moda — ou pelo menos não sai do radar dos investidores.

Em reportagem do Yahoo! Finance no último dia 27, Rick Kanda, da The Gold Bullion Company (corretora de metais preciosos), comentou que o preço do ouro hoje se move por dois principais fatores: a política externa dos EUA e a força do dólar.

Ambos os fatores seguem com o futuro incerto por enquanto: a política econômica da nova presidência de Trump pode trazer ruídos com a China por conta de suas tarifas. No âmbito geopolítico, Trump precisará lidar com a guerra entre Ucrânia e Rússia e o conflito na Faixa de Gaza envolvendo Israel e Palestina.

No âmbito doméstico, existe pouco consenso se a agenda de "America First" será uma vitória para o dólar, fortalecendo a economia e a indústria local, ou se o protecionismo será um tiro pela culatra, levando a uma nova onda inflacionária para os americanos.

Aqui, vale lembrar a tendência histórica no mercado em buscar investimentos seguros em tempos de incerteza. Para muitos investidores, o ouro é, com o perdão da repetição, medalha de ouro nesse quesito.

🥇 E os ETFs de ouro?

Um ETF de ouro funciona como um ETF de qualquer outro investimento: ele investe em ativos que representam seu índice, seja o índice composto por 500 empresas ou pela cotação de uma única moeda, como o Bitcoin.

No caso de fundos de metais preciosos, muitas gestoras realizam a compra física do metal precioso e entregam em sua cotação a mudança do valor do metal no mercado.

Esse é o caso do maior ETF de ouro do mundo, o GLD, com US$ 73 bi sob gestão do World Gold Council. A BlackRock também tem o seu “cofre”: o IAU, que completa 20 anos em alguns dias, acumula US$ 32 bi investidos.

A indústria de ETFs de ouro, no entanto, não se resume ao preço da barra: nos EUA, a febre dos ETFs temáticos levou à criação de fundos como GDX, da VanEck, e RING, da BlackRock, focados em ações de empresas de mineração.

E em um mercado onde o que sobe também pode cair, há ETFs americanos que apostam no azar do metal: fundos como GLL e DUST entregam a performance inversa do ouro.

👑 Ouro na B3

No Brasil, a XP lançou o primeiro ETF de ouro do país em 2020, o GOLD11. Sua estrutura acompanha o LBMA Gold Price, índice desenvolvido pela London Bullion Market Association para a cotação do metal. O ETF possui no mínimo 95% do patrimônio exposto ao IAU da BlackRock, segundo a InfoMoney.

Com 32 mil investidores e mais de R$ 300 milhões sob gestão, o GOLD11 entregou mais de 60% de retorno em 2024 — uma combinação da apreciação de 26% do ouro em dólar no período e da diferença entre dólar e real, que ficou ainda maior no final do ano.

2025 será tão marcante para os ETFs como 2024? O Bank of America acredita que sim

Uma injeção global de US$ 1,6 trilhão e mais de 1400 ETFs lançados mundo afora: com um 2024 tão marcante para uma indústria que, fora do Brasil, já tem décadas de amadurecimento, cabe a pergunta...

O que resta para ser inventado na "arena global" dos ETFs?

A Barron's compilou os insights de um estudo recente do Bank of America e, para a instituição, a confiança é forte: o mercado de ETFs ainda tem muito chão para percorrer.

O otimismo tem raízes em especial no crescente número de lançamentos de ETFs com gestão ativa (fundos que não buscam apenas acompanhar um índice, mas desenvolvem estratégias para superar o seu benchmark).

Se os ETFs de gestão ativa há alguns anos eram uma "pimenta" de inovação na carteira de investidores, como os fundos pioneiros da ARK, de Cathie Wood, hoje eles viraram um caminho sem volta: o investidor está cada vez mais cético em relação aos fundos tradicionais e suas taxas.

O Financial Times publicou na semana passada este gráfico, que ilustra a saída recorde de capital dos fundos de ações.

De volta ao estudo do BofA, a pesquisa mostrou que 121 fundos de investimentos fizeram no ano passado a conversão para a estrutura de ETF: mais transparência na cotação, mais liquidez e menores taxas.

A gestora centenária MFS, com seu primeiro fundo lançado 100 anos atrás, lançou em dezembro seus primeiros ETFs, o MFSG e o MFSI. Em 2025, a expectativa é uma continuidade desse movimento, incluindo firmas com patrimônio trilionário sob gestão, como Fidelity e Charles Schwaab.

Para além desse "voo para os ETFs" protagonizado por gestoras de fundos tradicionais, o BofA vê espaço para inovação nos fundos de índice ao olhar para investimentos como private equity, crédito e ativos digitais.

Sobre o último, ninguém precisa ser o BofA para dizer: se 2024 foi histórico para os ETFs, o ano foi igualmente marcante para o Bitcoin, levando o IBIT, da BlackRock, a ganhar o título de lançamento mais bem-sucedido na história dos ETFs. Criado em 5 de janeiro de 2024, o fundo chegou à marca de US$ 50 bi em apenas 11 meses.