Converse com um cético em relação a ETFs e ele provavelmente falará para você que, entre as suas ressalvas, uma delas é o fato de que o mercado no Brasil ainda é muito incipiente e oferece poucas opções.

E não há como negar: enquanto os Estados Unidos ultrapassam os US$ 10 trilhões de dólares sob gestão em ETFs custodiados no país (claro, há muito capital estrangeiro na conta), por aqui, somente 561 mil brasileiros investem em ETFs — e os investimentos de pessoa fisica brasileira representam somente 30% do patrimônio do volume negociado no mercado local. 

Motivo para desistir dos ETFs no Brasil, então? Longe disso. 

As opções para investir em fundos listados na nossa bolsa estão crescendo: em 2024, cruzamos a marca de mais de 100 ETFs na B3, acompanhados de mais de 200 BDRs de ETFs (títulos que replicam um ETF listado em outra bolsa da mesma forma que o BDR da ação da Tesla tem o papel de representar o papel da companhia aqui na B3).

E nesse mercado onde ainda há muito a ser desenvolvido, tivemos a oportunidade de conversar com Eduardo Rahal e Luiz Gustavo Almeida, da Levante Corp, uma casa de análise de investimentos independente, que foca em atender grandes clientes institucionais. Foram eles que, pouco mais de um ano atrás, em novembro de 2023, criaram a primeira carteira de ETFs composta apenas com papéis listados na bolsa brasileira.

Antes de entrarmos no papo, dê uma olhada na composição atual da carteira, que tem sua alocação revisitada mensalmente.

A criação da carteira e o benchmark que ela acompanha

Em um mundo movido por demandas, a carteira de ETFs brasileiros surgiu em especial pelo interesse compartilhado por Eduardo e Luiz Gustavo em relação ao mercado de ETFs. 

“Ela nasceu pelo nosso entusiasmo com o instrumento: o ETF é um produto barato e acessível. Tem algo que a gente gosta muito de falar que é: quando você investe em um ETF, você abre mão de tentar ser o melhor, como é o caso de investir em um fundo de gestão ativa, para ter a certeza de que você estará entre os ‘top 10’”, comenta Luiz Gustavo, analista não só de fundos e ETFs na Levante.

A estratégia é a de superar no longo prazo o Ibovespa, principal índice de ações da bolsa brasileira, mantendo uma alocação “agnóstica”, ou seja, diversificando os ativos que a compõem em classes que não sejam apenas a bolsa. Há renda fixa brasileira, há exposição em mercado imobiliário americano e até mesmo cripto.

Sobre o pioneirismo, Luiz complementa: “ao criar a carteira no ano passado, fizemos uma pesquisa para entender o que já tinha no mercado. Percebemos que, na verdade, não existia uma carteira de ETFs no modelo que a gente criou. Vimos exemplos de instituições sugerindo apenas os seus ETFs ou carteiras sem acompanhamento de alocação, rentabilidade histórica e outros detalhes importantes que explicamos mensalmente em nossas tomadas de decisão. Como uma casa de análise independente, vimos a oportunidade de tirar o viés e poder construir algo novo no mercado, compondo realmente com os melhores ETFs a partir da nossa tese”.

Performance histórica da carteira desde o início: 21,09% de retorno versus 11,09% do benchmark, o Ibovespa. Informações de 2 de dezembro, relatório mensal mais recente.

As tomadas de decisão de alocação

Eduardo Rahal, Head Institucional da Levante, aprofunda os bastidores da análise: “a gente realiza comitês semanais e um comitê mensal na Levante. Isso guia a tomada de decisão de todas as alocações da casa, então a nossa carteira de ETFs não foge, é claro, do olhar macro e das teses que temos.”

Eduardo Rahal, Head Institucional da Levante Corp

Um exemplo disso é a tese da Levante em relação a metais preciosos, ligada fortemente ao cenário geopolítico. Luiz Gustavo explica: “desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, os bancos centrais viram o impacto de um país ser excluído do sistema financeiro internacional. Isso fez com que muitos bancos centrais, independentemente do seu país ser aliado ou não dos Estados Unidos, considerassem descentralizar suas reservas em dólar e títulos do tesouro americano, buscando alternativas como ouro e prata. O banco central da Índia, por exemplo, foi um grande comprador de prata no ano passado.”

A tese da casa se reflete na alocação nos ETFs GOLD11 (4% da composição), cujo índice de referência é o LBMA Gold Price e no BDR BSLV39 (3%), que replica um fundo com índice da iShares e garante exposição à prata.

Composição atual da carteira de ETFs brasileiros da Levante Corp, atualizada em 2 de dezembro de 2024.

E os desafios em um mercado em desenvolvimento

A criação da carteira e suas realocações mensais ocorreram em paralelo ao desenvolvimento do mercado de ETFs no Brasil, que tem acelerado com uma série de lançamentos por diversas gestoras. Isso significa que cada vez mais os analistas da Levante encontram opções para diversificar e “completar” a carteira com o que eles entendem que faz falta para sua composição.

Rahal dá um exemplo: “desde o começo da carteira, víamos a necessidade de exposição a títulos brasileiros pós-fixados para garantir o ‘caixa’ da estratégia da carteira. Um ano atrás, não existia um ETF com essa característica. Em novembro, a Investo lançou o LFTB11, que agora representa 10% da nossa alocação. Hoje eu diria com confiança que é possível montar uma carteira com ETFs listados no Brasil. O que eu acho que vai acontecer ao longo do tempo é as gestoras incrementarem os seus produtos, com estratégias mais diferenciadas.”

E falando em futuro, o que os especialistas veem como desafios para a alocação no segundo ano da carteira de ETFs?

“Hoje, nossa alocação tem cerca de 70% de exposição em Real e 30% em ativos dolarizados. O que a gente imagina de desafio para o segundo ano é realinhar essa alocação de moedas conforme o cenário exigir, considerando tanto os movimentos externos quanto o rumo da economia aqui no Brasil”, Eduardo afirma, complementando:

“A principal mensagem dessa carteira é: não tem bala de prata. O nosso propósito não é seguir a mesma fórmula de uma gestão ativa que promete retornos absurdos. Acreditamos na mágica de fazer esse link de diferentes classes de ativos e entregar um bom retorno com risco reduzido em comparação ao benchmark.”

Luiz adiciona: “A gente olha sempre com foco no longo prazo. Usando um termo que ficou clichê, mas que representa muito bem nossa estratégia, é a ideia de uma carteira ‘antifrágil’. Isso significa que, quando o mercado vai bem, a alocação recomendada também vai bem, e quando ele vai mal, ela é capaz de amenizar os prejuízos.” 

Luiz Gustavo Almeida, analista de fundos e ETFs na Levante

A conversa com os profissionais da Levante tem um caráter informativo, não devendo ser confundida como recomendação de investimentos feita pela tudoETF. Incentivamos que você tome decisões de investimentos de forma independente e não deixe de conversar com um profissional certificado se sentir a necessidade.