Você já viu por aí "receita de índice"?
Provavelmente não, mas a tudoETF gosta de ir um pouco além do óbvio para abordar o investimento em fundos negociados na bolsa.
Índices são a espinha dorsal de um ETF. Eles fazem um recorte da economia e, assim, o investidor consegue se expor a diferentes fatias para diversificar seus investimentos.
Mas, antes mesmo de os ETFs existirem (e antes mesmo de John C. Bogle advogar pelo investimento indexado), índices já existiam.
Um bom exemplo é o CPI, índice de inflação dos EUA que começou a ser medido em 1919.
Sem mais delongas, vamos lá. Um guia simplificado de como criar um índice.
O que você quer demonstrar ou acompanhar? A flutuação dos preços na gôndola dos supermercados de um país inteiro ou a performance das ações de empresas que trabalham com IA generativa na busca por soluções na área da saúde?
Perceba que os dois exemplos mostram como a lente do índice pode ser panorâmica ou capaz de dar um zoom específico e muito preciso em um mercado.
Essa é a etapa em que você decidiu cozinhar um bolo, mas ainda não definiu quais são as melhores marcas para que sua receita dê certo — nem que medidas você dará para cada ingrediente.
Olhando para o mercado financeiro, digamos que você queira criar um índice que possa ser lido como a referência da performance da bolsa brasileira. Simples, certo? Basta colocar na mesma cesta todas as empresas listadas na B3.
Mas isso leva você a perceber que, na bolsa, há a ação do gigante Banco do Brasil e também o papel do pequeno Banco da Amazônia. Você precisa de regras para de fato honrar a sua ideia. Então…
O S&P 500, comumente usado para refletir "o mercado" americano, é composto por ações de 500 empresas, mas isso não significa que qualquer uma entra na festa.
Entre as diversas regras do índice estão a obrigatoriedade do market cap (a soma de todas as ações em circulação da empresa) ser igual ou superior a US$ 20,5 bi.
Esse é um entre vários exemplos que ajudam um índice a ganhar relevância e, acima de tudo, a ser visto como referência no mercado e instrumento para fundos indexados ou ETFs.
Nesta seleção de regras, há, por exemplo, um cuidado com a liquidez dos papéis, se estamos falando de ações na bolsa, ou o prazo médio de vencimento dos títulos, no caso de índices baseados em investimentos no Tesouro.
Digamos que você decidiu criar um índice temático: empresas brasileiras cujos serviços são majoritariamente dependentes de computação em nuvem.
Aqui, sua pesquisa precisa ir mais fundo para você decidir quem, de fato, pertence ao seu índice.
Você vai precisar acompanhar os balanços das empresas e as linhas de receitas, por exemplo. E, talvez, olhando para eles, você perceba a importância do próximo passo, já que algumas empresas podem ter mais lucro com produtos provenientes da sua tese do que outras.
Essa etapa é importante e, ao mesmo tempo, controversa. Tudo vai depender do objetivo do seu índice.
O nosso principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, traz em sua carteira não só uma série de filtros (como é o caso da ausência de ações cuja unidade é menor do que R$ 1), mas também um sistema de pesos a partir do valor de mercado de cada empresa.
A última atualização do Ibov, oficializada em janeiro, fechou com 87 papéis. Entre eles, os pesos pesados são:
"Se isso fosse um bolo, não teria gosto demais de minério de ferro e petróleo aí, não?"
Essa é uma crítica válida na indústria de índices. Basta ver como movimentos drásticos nas ações da Petrobras e da Vale conseguem azedar o Ibovespa.
O mesmo vale para o S&P 500 e as suas empresas com maior peso: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Meta... Curiosamente, todas expostas a um mesmo setor (tech, of course).
É por isso que é comum ver índices que derivam dos clássicos, mas colocam todos os componentes em pé de igualdade: os índices "equal weight". Você pode ler mais sobre eles no blog do Corporate Finance Institute (em inglês).
Sem entrar na matemática profunda dos índices, o que você precisa aqui é de uma fórmula que seja capaz de refletir suas escolhas e, ao mesmo tempo, evitar distorções que não são relacionadas à sua tese.
Há diversas formas de fazer isso:
A economia é viva e o seu índice também.
Se o seu índice não é dependente de uma escolha fixa de ações ou títulos, mas sim determinado a partir de valores que estão sempre mudando, é essencial que você defina uma rotina de revisões e rebalanceamentos.
O Nasdaq-100 tem revisão trimestral. O S&P 500 não possui uma agenda fixa, mas conta com um comitê que se reúne mensalmente para discutir a composição do índice.
A criação de um índice é muito mais sofisticada do que isso. Pesquisa de mercado, entendimento de demanda, cálculos, cálculos e mais cálculos fazem parte da formalização de um índice real no mercado.
A tudoETF (que é escrita por investidores, vale lembrar) esboçou alguns dos principais passos para que um índice saia do papel e você entenda ainda melhor a matéria-prima dos ETFs — e, quem sabe, brinque de criar o seu próprio índice caseiro por aí.