Hoje vamos aprofundar um dos principais elementos que está por trás de um ETF: a gestão passiva.
Todo fundo, seja ele um ETF ou um fundo tradicional, é como uma cesta. O que difere cada um desses produtos é a regra do que vai dentro.
Se o assunto é ETF, entram em cena os índices.
Essa costuma ser a regra fundamental de um ETF. É como se, ao ir na feira, o seu índice fosse uma lista de compras constante: comprar apenas frutas cítricas, predefinindo quantas laranjas, limões e acerolas você pode levar para casa.
A sua cesta sempre seguirá esta composição.
Em nenhum domingo você voltará com cebolas ou cairá na tentação de tomar um caldo de cana. A simplicidade desta lista de compras traz consistência, afinal, a sua rentabilidade espelhará o índice. Isso é gestão passiva.
Um ETF de Ibovespa, por exemplo, precisa seguir o índice. Hoje, o Ibov possui 86 ações de 83 diferentes empresas. Os principais pesos estão distribuídos entre Vale (VALE3, com 11,3%), Petrobras (PETR4, com 11,3% e PETR3 com 7,7%), Itaú Unibanco (ITUB4, com 7,2%) e Bradesco (BBDC4, com 3,5%).
Já em um fundo tradicional de ações, o gestor e sua equipe realizam diferentes compras e vendas na bolsa em nome dos seus investidores, sempre em busca da superação do índice. Isso é gestão ativa.
"Então ETF rende menos?"
O ETF, com sua lista definida desde o início, não promete superação, mas sim acompanhamento de um índice.
Já os fundos tradicionais com gestão ativa, buscam superar o mercado — e com isso, terão diferentes destinos. Há casos de sucesso, mas há quem sai perdendo. Em julho, o Neofeed publicou uma análise que pode responder à sua pergunta: enquanto há gestores que conseguem resultados cinco vezes maiores que o Ibovespa, a entrega de retorno consistente no longo prazo é rara.
A gestão ativa de um fundo também faz a ida à feira sair mais cara: enquanto ETFs brasileiros giram em torno de 0,2% a 0,8% de taxa anual de administração, o padrão dos fundos ativos é 2%, sem contar os 20% descontados sobre a performance positiva.
Não podemos esquecer que a mesma intenção de superar o mercado pode trazer ao investidor de um fundo tradicional prejuízos maiores do que a desvalorização do índice, um risco que você não corre com ETFs.
Por isso, ETFs são chamados de "fundos de índice".
Na tradução literal, ETF quer dizer "fundo negociado em bolsa". Nada aí indica a obrigação de um índice. A indústria, no entanto, caminhou globalmente para que ETFs sejam instrumentos de gestão passiva.
No Brasil, inclusive, esta é uma regra: todo ETF deve replicar um índice. Mas fora das terras brasileiras, a indústria de ETFs permite a existência de ETFs de gestão ativa.
Segundo a Morningstar, em publicação de setembro, os ETFs de gestão ativa têm cada vez mais chegado à bolsa americana.
No gráfico abaixo, replicado da reportagem, você pode ver a o lançamento anual de ETFs de índice (vermelho) vs. os de gestão ativa (azul). Até o fechamento da reportagem, 2024 viu a chegada de 331 ativos e 116 novos passivos.
Mas um parêntesis importante: em patrimônio, apenas 8% dos mais de US$ 9 tri alocados em ETFs estão expostos a estratégias ativas. A gestão passiva ainda reina com folga nas carteiras de quem aloca seu dinheiro em ETFs.
"O ETF de gestão ativa é igual a um fundo, então?"
O ETF ativo e o fundo tradicional se assemelham: em bom jargão financês, a gestão ativa buscará sempre “gerar alpha”: superar o mercado.
E assim como os fundos tradicionais, os ETFs ativos nos EUA costumam apresentar taxas mais altas que os seus irmãos com gestão passiva.
Em relação à estratégia, até mesmo a gestão de fundos tradicionais não se resume mais apenas a comprar e vender ações de forma frenética — esse hábito ficou para os day traders, que acreditam que, sozinhos, vencerão o mercado.
Há diferentes teorias de gestão ativa que podem embasar uma estratégia, como factor investing e a gestão quantitativa.
O blog do BB em julho sinalizou o desejo de gestoras brasileiras em lançar ETFs ativos. A matéria demonstrava a falta de perspectiva dos órgãos reguladores de trazer esse investimento no Brasil.
Mas o mercado dá voltas…
Em evento recente da S&P Dow Jones em São Paulo, o diretor da CVM, Daniel Maeda, abriu uma brecha para a proposta, como reportou o Valor. A fala do executivo não trouxe previsão de data, mas sim uma cautela importante: mesmo que as resoluções de fundos no Brasil abram margem para ETFs com gestão ativa, o foco sempre será em garantir produtos acessíveis e com liquidez.
O que isso quer dizer?
A indústria de ETFs ativos pode ser bastante nichada, com produtos que atendem necessidades específicas de uma pequena parcela de investidores — algo que não está no interesse da CVM.
Segundo Maeda, isso tiraria da discussão o lançamento de ETFs de gestão ativa muito arriscados. Estamos falando de ETFs que apostam contra um índice, que se expõem a derivativos ou que criam operações de aluguel para operar com mais dinheiro do que tem sob gestão.
"E vocês, tudoETF. O que pensam sobre?"
Acreditamos que o brasileiro ainda tem muito a conhecer sobre o poder dos ETFs passivos e que já estão ao seu dispor na bolsa.
Temos menos ansiedade em ver ETFs ativos no Brasil e mais vontade de ver o investidor entendendo o potencial de um índice, a importância do longo prazo e o benefício das taxas baixas dos fundos de índice.
Toda semana, uma recomendação para você. Como um bom investidor de ETFs, você tem tempo livre, já que seus investimentos estão acompanhando o mercado e você foca no longo prazo, sem se deixar levar por ruídos do dia a dia da Faria Lima ou de Wall Street.
Então aproveite esse tempo e assista à série Industry, produzida pela HBO e disponível no Max (parece publi, mas é só uma dica de série mesmo).
Só não confunda recomendação de série com dica de investimento: Industry faz você sentir o estresse de uma firma de investimentos que dificilmente receberia o selo “Great Place to Work”. Não queremos nada desse lado negativo do mercado em seus investimentos.